quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Menina-dos-olhos

Este post já era pra ter saído há muito tempo, quando, recém-chegada em Sydney, comecei a ter minhas primeiras impressões daqui. Pois bem, quase quatro meses já se passaram (como é rápido!) e, apesar do atraso, acho que agora vai ser até melhor porque tenho muito mais o que falar sobre a cidade que me conquista um pouquinho mais a cada dia.

Não sei se é porque estou num país diferente, e, portanto, mais atenta a tudo à minha volta, mas a impressão que tenho aqui é que o tempo todo estou sendo ‘bombardeada’ com muita informação visual. Muito parecido com o que achei da Inglaterra também. E, como designer, fico ainda mais atenta a tudo. Aliás, por falar em design, como o Rique Nitzsche, meu professor da pós, nos alertou há tempos, aqui já vemos a sustentabilidade como uma preocupação natural. Só pra citar três exemplos: apesar de não vermos muitas latas de lixo, as ruas são impecavelmente limpas. Jogar uma guimba de cigarro no chão pode até dar multa. Nos mercados quase todo mundo já leva suas próprias ‘ecobags’ de casa pra evitar o uso exagerado de sacolas plásticas. E, na Target, uma famosa loja de departamentos, chega-se ao ponto de cobrar por cada sacola plástica utilizada para carregar as compras, com certeza também numa tentativa de evitar o desperdício. Por último, e talvez o que mais tenha me chamado atenção, em todos os banheiros as descargas vêm com duas opções de botões para apertar (não preciso nem explicar em que situação usar cada um, né?). Uma medida simples, mas que com certeza ajuda a evitar o desperdício de água.

Sustentabilidade à parte, vamos falar das pessoas, que quase sempre são as grandes responsáveis por fazer a fama de um lugar. E Sydney leva a sério a fama de ser alto-astral. Embora seja um importante centro comercial da Austrália, a formalidade do mundo dos negócios não a faz perder seu estilo de vida totalmente descontraído. O povo, alegre e hospitaleiro, torna a cidade ainda mais apaixonante. Bem verdade é que metade dos 4 milhões de habitantes da cidade é estrangeira e com uma simples caminhada pelo centro percebe-se como australiano é artigo em falta por aqui. Desde a minha chegada só conheci três: sendo que dois deles não são originalmente de Sydney. Além disso, vejo tanto muçulmano e, principalmente, oriental que às vezes me pergunto se estou mesmo na Austrália. Sem contar com os brasileiros que também estão em toda parte e são facilmente identificáveis: é sempre o grupo mais animado, falando mais alto. Aliás, falar que é brasileiro aqui é ter a certeza de receber um belo sorriso de volta e começar um daqueles papos sobre as maravilhas da nossa terra. É impressionante como os gringos adoram o Brasil, apesar da violência também ser mencionada constantemente.

Continuando a falar sobre pessoas, ainda me surpreendo com a educação da maioria que encontro dia a dia, nos mais diversos lugares. Pra começar, em qualquer escada rolante da cidade, se você não está com pressa, pare somente do lado esquerdo para deixar o caminho livre para os mais apressados. As pessoas de fato respeitam isso. Os motoristas de ônibus então são uma caso à parte: extremamente educados, andam somente nas ‘buslanes’ especificadas, esperam pacientemente a entrada e saída de cada passageiro e ninguém reclama. Isso quando eles não saem de seus postos para ajudar algum cadeirante ou alguma mãe com carrinho de bebê. Aliás, vale destacar aqui que todos os ônibus têm bancos móveis, que são lugares especiais reservados para essas pessoas. Há também um compartimento para colocar pertences mais pesados para que as pessoas não precisem ficar se equilibrando com mil bolsas e sacolas. Basta pegar no mesmo local antes de sair do ônibus. E nem preciso dizer que nada desaparece, né? Ah, sim, e tudo isso funciona também porque há limite máximo de passageiros permitidos em pé e o motorista nem sequer para no ponto se esse número já tiver sido atingido. Bem diferente das ‘sardinhas enlatadas’ do Brasil. Outro lugar que me chamou atenção pela educação das pessoas foram os supermercados. Sempre tem um funcionário pronto pra te ajudar a encontrar um produto, além do momento de pagar, quando você sempre é recebido pelo caixa com um ‘how are you today?’. Bem verdade é que caixas com pessoas aqui estão sendo gradativamente substituídos por auto-caixas, em que o consumidor registra toda sua compra sozinho, coloca nas sacolas, paga e vai embora. E alguém coloca algum item na sacola sem pagar? Claro que não!

Mais algumas curiosidades locais, merecem destaque: se você estiver na praia e ouvir uma sirene, saia logo do mar. É um aviso de que algum tubarão provavelmente conseguiu passar a rede de segurança submarina e se aproximou da praia mais do que deveria. Mas nada de pânico: é só sair, esperar um tempo e voltar. Para garantir que nada aconteça há salva-vidas na areia orientando os banhistas e helicópteros e barcos fazendo todo o monitoramento da região. Aliás, os sinais de travessia de pedestres aqui também funcionam com sirenes, que disparam como se estivessem liberando uma ‘boiada’ para atravessar a rua. Chega a ser engraçado! Outra coisa que me chama atenção aqui é uma ‘cultura do exagero’, às vezes meio parecida com a americana. Tudo que é besteira que você vai comprar vem acompanhada de uma promoção do tipo ‘leve 2 e pague 1’, com um preço muito melhor do que se você comprasse apenas um item. E você acaba comprando, mesmo sabendo que não precisa de outro chocolate pra satisfazer sua vontade de doce, por exemplo. Isso sem contar que é sempre mais barato comprar ‘junkie food’ do que ter um almoço saudável. E por falar em exagero, nunca vi um povo pra beber tanto! Olha que as regras para consumo de álcool aqui são extremamente rígidas: nada de consumo na rua ou na praia, só se compra bebida alcoólica em ‘bottle shops’ e, se você estiver em um bar ou boate, e o garçom achar que você já bebeu demais, ele tem o dever de parar de te servir ou pode colocar em risco seu emprego ou mesmo arrumar uma multa pro estabelecimento. E, se você achar ruim, azar, pode acabar expulso do local – acreditem, já vi isso acontecendo com pessoas próximas.

O agitado centro da cidade de Sydney não deixa nada a desejar à loucura do centro do Rio de Janeiro, mas é muito mais bem cuidado e de longe muito mais bonito também, com suas ruas largas e arejadas e um mix inusitado de arquitetura antiga com moderna. Mas, como carioca, o que ainda me impressiona mais é a segurança, Aqui ninguém se preocupa em segurar a bolsa fortemente pra evitar o roubo por algum trombadinha. Aliás, não existe pivete aqui, existem sim alguns raros pedintes, que ficam sentados segurando plaquinhas explicando os motivos de estarem pedindo dinheiro. O que pode irritar um pouco é a quantidade de pessoas distribuindo papeis e parando os pedestres pra pedir contribuição pra alguma instituição de caridade ou pra fazer propaganda de algum produto. Mas até isso às vezes pode ser benéfico quando um bar, por exemplo, coloca uma de suas garçonetes na porta do estabelecimento oferecendo experimentação gratuita de suas comidas ou bebidas. Uma boa forma de atrair novos clientes. 

Enfim, impressões pessoais à parte, se após ler tudo isso, alguém ficar com vontade de conhecer a cidade que será minha eterna segunda casa, não pode deixar de ir às praias de Bronte Beach, Manly, Watson’s Bay, Seal Rocks – um pouco afastada de Sydney – e, a minha preferida e onde tenho a felicidade de morar agora, a famosa Bondi (lê-se ‘bondai’) Beach. A noite australiana deixa um pouco a desejar e quase sempre termina bem cedo, mas é bem verdade que existe programação em qualquer dia da semana que se queira sair. Então, não poderia deixar de citar The Gaff às terças, Side Bar às quartas e Argyle às sextas, bares / boates que com certeza já marcaram minha temporada em ‘Sydnelson’. E, nos dias sem praia, o que não faltam são lugares imperdíveis: o gostoso bairro de The Rocks, a famosa Opera House junto à Harbour Bridge, a Universidade de Sydney, a confusão do Paddy’s Market e os milhares de parques espalhados pela cidade – destaque para o Hyde Park e o Victoria Park. Sem contar com uma bela caminhada de duas horas pela costa de Coogee Beach até Bondi Beach e no final parar para um chopp no Iceberg, um bar com uma vista incrível de onde às vezes até se avista alguns golfinhos – eu tive essa sorte. E, por último, meu lugar preferido de Sydney: Darling Harbour, que seja dia ou seja noite é simplesmente fascinante! É como a vista da Enseada de Botafogo, com o Pão de Açúcar ao fundo, no meu saudoso Rio de Janeiro: não importa quantas vezes eu passe por lá, sempre ficarei encantada. Enfim, como li em uma revista por aqui, “a menina-dos-olhos da Austrália é, sem dúvida, um lugar mágico para se conhecer”.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Três meses de escolhas

O texto sobre minhas impressões de Sydney mais uma vez vai ficar pra depois. Está enorme e quase pronto pra ser postado aqui, mas me dei conta de que hoje já faz três meses que comecei minha aventura australiana. Por isso estou aqui pra falar um pouco sobre esse período que, ao mesmo tempo que passou tao rápido, parece ainda muito pouco,perto do tempo que eu gostaria de ficar aqui ainda.

Desde que vim pra cá, percebo como já mudei de ideia várias vezes, Como vi alguns dos meus objetivos mudarem tantas outras. E o mais engraçado é como aqui os sentimentos e pensamentos aparecem de forma bem contraditória. Às vezes me sinto numa montanha-russa que de uma hora pra outra é capaz de me virar de cabeça pra baixo e me fazer questionar se não estou começando a ficar maluca por sentir tanta coisa diferente quase simultaneamente. Quem já teve ou está tendo a mesma experiência que eu provavelmente vai entender o que quero dizer:

- É muito bom ter, pela primeira vez, a responsabilidade de me virar pra me sustentar, mas por vezes sinto falta do conforto que tinha no Brasil.
- Também é ótima a experiência de dividir apartamento e acordar com a casa cheia logo de manhã, mas como às vezes sinto falta do meu quarto, de um cantinho só pra mim.
- Finalmente estou aprendendo a cozinhar – coisa que nunca achei que faria – e estou adorando, mas como sinto falta de chegar em casa e ter diversas opções prontas pra escolher na geladeira. Sinto falta acima de tudo da comida brasileira, especialmente da comida da minha casa.
- É ótimo perceber como estou completamente adaptada em Sydney e praticamente não me vejo morando por agora no Rio de Janeiro de novo, mas como sinto falta da cidade maravilhosa, com toda sua agitação, principalmente nessa época do ano.
- É interessante a possibilidade de fazer novos contatos em busca de um novo emprego, e com ele novos desafios profissionais, mas às vezes quero de novo a estabilidade profissional que de certa forma já estava começando a atingir no Brasil.
- Fico feliz todo dia quando encontro alguns amigos daqui e percebo a sorte que tive de conhecer pessoas tão maravilhosas que com certeza ajudam muito a preencher o vazio deixado pelos outros. Mas como sinto saudade dos meus amigos de sempre, alguns de uma vida toda.
- Sinto-me protegida a cada palavra de carinho e incentivo dos meus pais, seja por e-mail, carta ou telefone, mas como também sinto falta de abracá-los. É, não consigo encontrar aqui nada que “substitua” isso.
- Enfim,ao mesmo tempo que estou vivendo um sentimento novo, um friozinho na barriga por não saber o que me espera pelos próximos três meses – data inicial da minha volta – às vezes sinto falta da minha vida planejadinha de antigamente.

Bom, a verdade é que, dia-a-dia, vou tentando me entender, tentando descobrir o que quero e o que não quero – ainda que muitas vezes só por aquele breve momento. Às vezes quero ficar mais, às vezes tenho vontade de ir embora. Mas são nesses momentos que mais do que nunca percebo que existem os sacrifícios, os desapegos e coisas que a gente não quer largar. Como ir pra frente sem olhar pra trás? Pois é, não tem jeito. Escolhas têm que ser feitas, decisões tomadas. E eu escolhi vir pra Austrália há 14 anos atrás, quando pela primeira vez falei pra minha mãe que um dia ainda moraria aqui. E tomei minha decisão de vir de fato ano passado, deixando de lado o caminho conhecido, confortável, mais fácil. Vim sem garantias, respirando fundo e dizendo "eu vou".

E foi assim, com momentos bons e ruins (muito poucos na verdade), curtindo as novidades e as dificuldades, que eu passei esses primeiros três meses aqui. Não tenho ideia do que me espera pela frente. Talvez eu fique aqui apenas mais três meses, como previsto inicialmente, talvez eu prolongue minha vida australiana... Mas o que sei é que isso tem que ser mais uma escolha, a minha escolha.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Morar fora

Enquanto não acabo de escrever o interminável texto sobre minhas primeiras impressões de Sydney, segue esse texto sobre "morar fora" que conheci através de uma amiga querida que fiz aqui.

Morar fora não é apenas aprender uma nova língua.
Não é apenas caminhar por ruas diferentes ou conhecer pessoas e culturas diversas.
Não é apenas o valor do dinheiro que muda.
Não é apenas trabalhar em algo que você nunca faria no seu país.
Não é apenas ter a possibilidade de ganhar muito mais dinheiro do que se ganhava.
Não é apenas conquistar um diploma ou fazer um curso diferente.
Morar fora não é só fazer amigos novos e colecionar fotos diferentes.
Não é apenas ter horários malucos e ver sua rotina se transformar.
Não é apenas aprender a se virar, lavar, passar, cozinhar.
Não é apenas comer comidas diferentes, pagar suas contas, se preocupar com o seu próprio aluguel.
Não é apenas não ter que dar satisfações e ser dono do seu nariz.
Não é apenas amar o novo, as mudanças e também sentir saudades de pessoas queridas e algumas coisas do seu país.
Não é apenas levantar da cama em um segundo quando chega encomenda da sua familia.
Não é apenas já saber que é alguém da sua familia ligando quando toca seu celular todo domingo no mesmo horário.
Não é apenas a distância.
Não são apenas as novidades. Não é apenas uma nova vista ao abrir a janela.
Morar fora é se conhecer muito mais.

É amadurecer e ver um mundo de possibilidades à sua frente.
É perceber que é possível sim, fazer tudo aquilo que você sempre sonhou e que parecia tão surreal.
É notar que o mundo está na sua cara e você pode conhecê-lo inteiro.
É ver seus objetivos mudarem.
É mudar de idéia.
É colocar em prática.
É sentir sua mente se abrir muito mais, em todos os momentos.
É se ver aberto para a vida.
É não ter medo de arriscar.
É você se apaixonar.
É aceitar desafios constantes.
É se sentir na Terra do Nunca e não querer voltar.
É pensar em voltar e não conseguir se imaginar no mesmo lugar.
Morar em outro país é se surpreender consigo mesmo.
É se descobrir e notar que, na verdade, você não conhecia a fundo algo que sempre achou que conhecia muito bem: você mesmo.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Juhitch

No post anterior, falei que iria registrar aqui minhas primeiras impressões de Sydney. No entanto, resolvi dividir com vocês o “drama” que vivemos aqui durante nossos primeiros cinco dias. Muita gente vai se surpreender porque esperamos pra ver como tudo se resolvia antes de fazer alarde. E, como tudo terminou bem, aqui estou pra contar uma história da qual um dia ainda vamos rir muito.

Logo no primeiro dia em Sydney, Juju conheceu seu primeiro amigo: um médico. Em torno de sete horas após ter chegado, estávamos no shopping quando, do nada, os lábios dela começaram a inchar absurdamente. E foi assim que fizemos nosso primeiro tour na cidade: uma visita ao centro médico mais próximo. Foi diagnosticada uma reação alérgica a não sei o quê, vinda não sei de onde (provavelmente algo que ela comeu). “Adoro” quando os médicos são tão precisos assim... O importante é que ela foi medicada, sua boca foi desinchando e aos poucos ela foi perdendo a aparência de Hitch (se não assistiram ao filme “Hitch, Conselheiro Amoroso” assistam que entenderão a gravidade da situação).

Já na quinta-feira, tivemos um dia perfeitamente normal, que aproveitamos pra ajeitar nossa casinha. Eis que na madrugada de quinta pra sexta, Juju acorda às duas da manhã com uma reação alérgica que voltou ainda pior. Agora pescoço, braços e costas estavam cheios de placas vermelhas, como urticárias. No desespero, ela ligou pro Brasil pra saber como cancelar o curso (que começaria na segunda), trocar passagens e voltar pra casa! E, como estava de madrugada e ela se sentia bem, optamos por esperar amanhecer para voltar no médico. Mais tarde viríamos a saber que o mais correto teria sido ir direto para a emergência de um hospital.

Na sexta de manhã, agora com a alergia espalhada por praticamente todo o corpo, consulta de emergência com um outro médico. Esse diagnosticou alergia ao pólen das flores, fato que costuma ser comum nessa época do ano aqui na Austrália. Que ótimo: Juju agora não poderia nem sair na rua?! Mais uma vez medicada, ela foi melhorando, mas os remédio lhe davam um sono absurdo. Resultado: meus primeiros passeios por aqui foram sozinha, até mesmo pra espairecer um pouco, pois, apesar da aparente calma, estava super preocupada com minha amiga e tensa com relação à sua decisão de continuar aqui ou ir embora.

Na terça dessa semana, foi a última (se Deus quiser) e decisiva consulta. O médico (o mesmo que nos atendeu da primeira vez) tornou a afirmar que isso era reação a algum alimento, o que de certa forma nos tranquilizou. Reduziu a medicação e deu novas orientações para o caso de uma nova crise. E, na falta de garantias da alergia poder voltar ou não, e depois de muito papo avaliando prós e contras, Juju finalmente resolver ficar. Agora já quase 100% também. Viva!

Bom, passado toda o drama, a parte boa é que nosso vocabulário de terminologias médicas em inglês aumentou muito. Até nomes de genéricos já sabemos! Mas o fato é que finalmente agora nossos dias começaram a ficar normais: estamos estudando e começando a planejar nossos fins de semana e tempos livres para aproveitar cada segundo dessa experiência que com certeza será maravilhosa!

Por último e já introduzindo o assunto do próximo post (agora de verdade), minha primeira boa impressão: as pessoas que trabalham com a venda de remédios nas farmácias são muito bem preparadas! Não apenas vendem como no Brasil, mas também se preocupam em entender o que está acontecendo com o paciente e explicar claramente a finalidade e a forma de tomar o remédio. Sem contar com a educação, mas isso fica pra depois. Tem muita coisa boa para ser dita!

domingo, 1 de novembro de 2009

Brincando de casinha

Como falei no post anterior, os primeiros dias aqui foram dedicados às compras pra mobiliar o ap e ter o que comer. Por sorte, estamos muito bem localizadas, com um shopping bem em frente que, além de lojas claro, tem tudo o que precisamos: mercado, farmácia, loja de departamento (K-Mart, uma maravilha!), casa de câmbio, clínica, conserto de roupas, restaurantes, etc. Por incrível que pareça, nos divertimos muito nessa “brincadeira de casinha” de tentar deixar tudo com a nossa cara. Obviamente que ainda é divertido porque não chegamos na parte de lavar, passar e limpar. O fato é que pela primeira vez me dei conta de como se tem coisa pra fazer e providenciar (incluindo aí a internet no ap) quando se mora sozinha e ninguém faz nada por você.

As compras merecem um destaque especial: foram hilárias! Num país em que a maioria das marcas são completamente diferentes das que estamos acostumadas a comprar, nossos critérios de escolha seguiram a seguinte ordem: primeiramente marca conhecida e preço mais baixo. E, na falta de melhores parâmetros de julgamento, apelamos mesmo para cor preferida em um produto, formato da embalagem de outro, e por aí foi. No geral nos saímos bem, mas já descobrimos que o detergente que compramos é uma porcaria que não desengordura os pratos direito! Já foi cortado da próxima compra.

Depois de muitas indas e vindas ao shopping, agora temos um ap pronto pra receber visitas (isso é um convite, heim?). Aliás, nosso ap é grande e lindo!! Pra quem ainda não sabe, é um loft. No primeiro andar temos a sala com sofá-cama e TV, kitchenette com microondas e uma mini-geladeira, banheiro e mesas de estudo. No segundo andar fica o nosso quarto, com duas camas de casal e dois armários pequenos, mas suficientes para nossas roupas. Sim, este é um ap de mulheres econômicas e práticas!

O prédio é um luxo também: tem piscina, academia, terraço com área para churrasco e é muito seguro. Pra tudo tem que usar o cartão de identificação de morador (desde a porta de entrada até o elevador). Em cada andar (são quatro no total) tem cozinha, lavanderia e sala de passar roupa (espaços comunitários que ainda nem chegamos perto... rsrs) e um lounge com TV e jogos (totó, sinuca e ping-pong). Isso tudo pra suprir nada mais nada menos do que 146 apartamentos por andar! Isso mesmo, o prédio é um verdadeiro labirinto e obviamente eu e Juju nos perdemos aqui dentro logo no primeiro dia. Ainda bem que é tudo extremamente organizado, logo tudo funciona muito bem!

Bom, acho que é isso. Aos poucos vou colocando fotos no orkut. E, no próximo post, minhas primeiras impressões de Sydney. As melhores possíveis!

sábado, 31 de outubro de 2009

A Viagem

Pra quem quer vir um dia pra Austrália um conselho: queira de verdade! Depois de 3 horas de voo pra Buenos Aires, 10 horas de espera na conexão em plena madrugada (com direito à revista de mala de mão, pessoa por pessoa, antes de embarcar), mais 13 horas de voo até a Nova Zelândia, com 1 hora de escala, e mais 3 horas de voo, finalmente cheguei em Sydney. Resumindo: com a loucura dos fusos, saí do Brasil às 15h30 de segunda e aqui cheguei às 13h30 de quarta. Mas cheguei super bem e, apesar da demora, a viagem foi bem tranquila o tempo todo!!

Bom, mas antes de falar da chegada em Sydney, preciso comentar que já me encantei pela Nova Zelândia. Como o dia estava maravilhoso, a vista da chegada de avião foi uma coisa de outro mundo de tão bonita! Preciso urgentemente “dar um pulinho” lá. A chegada em Sydney não foi tão bonita (talvez pela localização do aeroporto), mas foi um caso à parte. Confesso que meu coração disparou naquele momento, acho que por finalmente estar realizando meu grande sonho. Que sensação boa!

Já em terra, fomos recebidos logo na saída do avião por um policial com um labrador que ia “discretamente” passando pelos passageiros e cheirando as bagagens. Não foi nada constrangedor, mas me chamou a atenção logo de cara. A imigração foi bem tranquila tirando a fila. E ainda fui atendida por um mocinho liiindo (não era loiro) que logo me liberou e no final, depois de ver meu passaporte brasileiro, lançou um sorrisinho e falou “obrigado”, assim mesmo, em português. Adorei!!! Começando com o pé direito.

Saindo do aeroporto uma boa surpresa: minha prima Thais, que já ta morando aqui há um ano e oito meses, foi me buscar e ainda me levou de presente um TimTam, chocolate/biscoito típico daqui e maravilhoso! A verdade é que foi muito bom não ter que pensar sozinha em como chegar em casa. Ah, claro que liguei logo para os Sr. e Sra. Jappe que não viam a hora de receber notícias. Chegando no ap (ótimo, por sinal), a Juju já estava devidamente instalada e no mesmo dia começamos a “brincar de casinha”. Mas isso é assunto para o próximo post. Por enquanto, primeira missão cumprida: cheguei bem e extremamente feliz em Sydney!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

É preciso coragem para ser feliz

Resolvi reativar o blog agora que inicio uma nova e importante etapa da minha vida. E nada melhor do que esse texto, que recebi de uma amiga muito querida e tem tudo a ver com esse meu momento. O nome é "Da Minha Precoce Nostalgia", de Maria Sanz Martins. Espero que gostem!

Quando eu for bem velhinha, espero receber a graça de, num dia de domingo, me sentar na poltrona da biblioteca e, bebendo um cálice de Porto, dizer a minha neta: "Querida, venha cá. Feche a porta com cuidado e sente-se aqui ao meu lado. Tenho umas coisas pra te contar." E assim, dizer apontando o indicador para o alto: "O nome disso não é conselho, isso se chama corroboração!"

Eu vivi, ensinei, aprendi, caí, levantei e cheguei a algumas conclusões. E agora, do alto dos meus 82 anos, com os ossos frágeis a pele mole e os cabelos brancos, minha alma é o que me resta saudável e forte. Por isso, vou colocar mais ou menos assim:

É preciso coragem para ser feliz. Seja valente. Siga sempre seu coração. Para onde ele for, seu sangue, suas veias e seus olhos também irão. E satisfaça seus desejos. Esse é seu direito e obrigação. Entenda que o tempo é um paciente professor que irá te fazer crescer, mas escolha entre ser uma grande menina ou uma menina grande, vai depender só de você. Tenha poucos e bons amigos. Tenha filhos. Tenha um jardim. Aproveite sua casa, mas vá a Fernando de Noronha, a Barcelona e a Austrália. Cuide bem dos seus dentes. Experimente, mude, corte os cabelos. Ame. Ame pra valer, mesmo que ele seja o carteiro. Não corra o risco de envelhecer dizendo "ah, se eu tivesse feito..." Tenha uma vida rica de vida. Vai que o carteiro ganha na loteria - tudo é possível, e o futuro é imprevisível. Viva romances de cinema, contos de fada e casos de novela. Faça sexo, mas não sinta vergonha de preferir fazer amor. E tome conta sempre da sua reputação, ela é um bem inestimável. Porque sim, as pessoas comentam, reparam, e se você der chance elas inventam também detalhes desnecessários. Se for se casar, faça por amor. Não faça por segurança, carinho ou status. A sabedoria convencional recomenda que você se case com alguém parecido com você, mas isso pode ser um saco! Prefira a recomendação da natureza, que com a justificativa de aperfeiçoar os genes na reprodução, sugere que você procure alguém diferente de você. Mas para ter sucesso nessa questão, acredite no olfato e desconfie da visão. É o seu nariz quem diz a verdade quando o assunto é paixão. Faça do fogão, do pente, da caneta, do papel e do armário, seus instrumentos de criação. Leia. Pinte, desenhe, escreva. E por favor, dance, dance, dance até o fim, se não por você, o faça por mim. Compreenda seus pais. Eles te amam para além da sua imaginação, sempre fizeram o melhor que puderam, e sempre farão. Cultive os amigos. Eles são a natureza ao nosso favor e uma das formas mais raras de amor. Não cultive as mágoas - porque se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que um único pontinho preto num oceano branco deixa tudo cinza.

Era só isso minha querida. Agora é a sua vez. Por favor, encha mais uma vez minha taça e me conte: como vai você?