sexta-feira, 13 de junho de 2008

O fim do que nem começou

“Expectativa é a forma mais pura de prazer. E a mais confiável. Enquanto as coisas que ocorrem nos decepcionam, as coisas que não ocorrem nunca desaparecem. Sempre ficam em nossos corações como um tipo de doce tristeza”. Resolvi começar o texto com essa frase do escritor francês Gustave Flaubert, apesar de achar que o que acontece é geralmente muito melhor do que o que fica só no “e se” das expectativas.

Sábado pós-carnaval. Recém-chegada da Bahia e após muita insistência das amigas, ela resolve beber um chopp – e atualizar as fofocas do melhor carnaval da sua vida. Veste a primeira roupa que vê pela frente, improvisa uma rápida maquiagem – pra disfarçar as olheiras de uma semana mal dormida – e vai para um barzinho que nem costuma freqüentar. Em algum lugar da cidade, ele faz o mesmo – exceto, é claro, a parte da maquiagem.

Assunto é o que não falta. Praticamente fazem fila pra organizar quem fala o quê. De tão entretidas no animado papo, nem percebem quando quatro rapazes chegam no bar e resolvem sentar justamente na mesa mais próxima à delas. Coincidência? Alheias a qualquer sinal de approach, elas só notam suas presenças quando a hostess do bar entrega um bilhete, com um recado e o telefone “do de camisa azul”, justamente praquela que estava mais desligada do movimento em volta. Bilhete certeiro pra quem ainda quer acreditar em finais felizes. Sim, porque não se vê mais iniciativas como essa atualmente.

Não demorou muito pra que começassem a trocar mensagens: mora onde? Estuda o quê? Com o que trabalha? O que gosta de fazer? Enfim, aquele interrogatório típico de quem acaba de se “conhecer”. Pra começarem a se falar diariamente foi um pulo. O papo fluía como se eles se conhecessem há muito tempo. E aquela troca de mensagens e e-mails, ao longo da semana, rapidamente foi se transformando - para ela - numa expectativa enorme para que chegasse logo o fim de semana do “primeiro encontro”.

Bom, não é preciso dizer que quanto maior a expectativa, maior também é a decepção e esse fim de semana nunca chegou, nem naquela semana, nem em nenhuma outra mais tarde. É verdade que continuaram se falando, mas não passava disso. Aliás, isso acabou deixando-a ainda mais confusa. Afinal, se partiu dele todo o approach lá do começo, por que de repente tudo ficara tão difícil de se desenrolar? Alguma coisa só poderia estar errada. Definitivamente, intuição feminina nunca falha e pouco tempo depois ele apareceu namorando. Estava envolvido “numa história antiga que pegou de surpresa”.

Sem querer entrar no mérito de ser verdade ou não, toda aquela sinceridade da iniciativa no bar foi por água abaixo com a falta de explicações que ela esperava ter agora e nas quais ele nem deveria mais estar pensando. Mas fazer o quê? É como diria uma amiga: criar expectativas é mesmo um traço feminino. Para tudo criamos expectativa: seja por conta da nossa mente fértil, seja por motivos óbvios – ou falsas esperanças - que o outro nos dá. O homem, por sua vez, vive ali o momento, puro e simples, sem pensar no “pra frente”. E assim segue feliz. E sofre menos. Porque não passa pela dor da realidade que uma hora vem esquartejando a tal da expectativa, e leva embora o doce sentimento “daquilo que poderia ter sido”.