sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Três meses de escolhas

O texto sobre minhas impressões de Sydney mais uma vez vai ficar pra depois. Está enorme e quase pronto pra ser postado aqui, mas me dei conta de que hoje já faz três meses que comecei minha aventura australiana. Por isso estou aqui pra falar um pouco sobre esse período que, ao mesmo tempo que passou tao rápido, parece ainda muito pouco,perto do tempo que eu gostaria de ficar aqui ainda.

Desde que vim pra cá, percebo como já mudei de ideia várias vezes, Como vi alguns dos meus objetivos mudarem tantas outras. E o mais engraçado é como aqui os sentimentos e pensamentos aparecem de forma bem contraditória. Às vezes me sinto numa montanha-russa que de uma hora pra outra é capaz de me virar de cabeça pra baixo e me fazer questionar se não estou começando a ficar maluca por sentir tanta coisa diferente quase simultaneamente. Quem já teve ou está tendo a mesma experiência que eu provavelmente vai entender o que quero dizer:

- É muito bom ter, pela primeira vez, a responsabilidade de me virar pra me sustentar, mas por vezes sinto falta do conforto que tinha no Brasil.
- Também é ótima a experiência de dividir apartamento e acordar com a casa cheia logo de manhã, mas como às vezes sinto falta do meu quarto, de um cantinho só pra mim.
- Finalmente estou aprendendo a cozinhar – coisa que nunca achei que faria – e estou adorando, mas como sinto falta de chegar em casa e ter diversas opções prontas pra escolher na geladeira. Sinto falta acima de tudo da comida brasileira, especialmente da comida da minha casa.
- É ótimo perceber como estou completamente adaptada em Sydney e praticamente não me vejo morando por agora no Rio de Janeiro de novo, mas como sinto falta da cidade maravilhosa, com toda sua agitação, principalmente nessa época do ano.
- É interessante a possibilidade de fazer novos contatos em busca de um novo emprego, e com ele novos desafios profissionais, mas às vezes quero de novo a estabilidade profissional que de certa forma já estava começando a atingir no Brasil.
- Fico feliz todo dia quando encontro alguns amigos daqui e percebo a sorte que tive de conhecer pessoas tão maravilhosas que com certeza ajudam muito a preencher o vazio deixado pelos outros. Mas como sinto saudade dos meus amigos de sempre, alguns de uma vida toda.
- Sinto-me protegida a cada palavra de carinho e incentivo dos meus pais, seja por e-mail, carta ou telefone, mas como também sinto falta de abracá-los. É, não consigo encontrar aqui nada que “substitua” isso.
- Enfim,ao mesmo tempo que estou vivendo um sentimento novo, um friozinho na barriga por não saber o que me espera pelos próximos três meses – data inicial da minha volta – às vezes sinto falta da minha vida planejadinha de antigamente.

Bom, a verdade é que, dia-a-dia, vou tentando me entender, tentando descobrir o que quero e o que não quero – ainda que muitas vezes só por aquele breve momento. Às vezes quero ficar mais, às vezes tenho vontade de ir embora. Mas são nesses momentos que mais do que nunca percebo que existem os sacrifícios, os desapegos e coisas que a gente não quer largar. Como ir pra frente sem olhar pra trás? Pois é, não tem jeito. Escolhas têm que ser feitas, decisões tomadas. E eu escolhi vir pra Austrália há 14 anos atrás, quando pela primeira vez falei pra minha mãe que um dia ainda moraria aqui. E tomei minha decisão de vir de fato ano passado, deixando de lado o caminho conhecido, confortável, mais fácil. Vim sem garantias, respirando fundo e dizendo "eu vou".

E foi assim, com momentos bons e ruins (muito poucos na verdade), curtindo as novidades e as dificuldades, que eu passei esses primeiros três meses aqui. Não tenho ideia do que me espera pela frente. Talvez eu fique aqui apenas mais três meses, como previsto inicialmente, talvez eu prolongue minha vida australiana... Mas o que sei é que isso tem que ser mais uma escolha, a minha escolha.